"Todos dizem ser forte o rio que tudo arrasta. Ninguém diz serem fortes, as margens que o comprimem"

domingo, 25 de outubro de 2009

"Morangos não é uma novela, é uma instituição de caras bonitas"

Antes de contracenar com Al Pacino numa produção de Hollywood, Diogo Morgado falou ao si sobre o filme e criticou a ficção nacional
foi uma entrevista arrancada a ferros. Nos últimos tempos a vida do actor Diogo Morgado tem sido um frenesim. Foi pai pela primeira vez e soube recentemente que vai contracenar com Al Pacino no novo filme de de James Foley, "Mary , Mother of Christ", onde interpreta a personagem José. Ao i, o actor explica como pretende conquistar Hollywood e ataca a ficção que passa nas televisões nacionais.
Como surgiu a possibilidade de entrar em "Mary, Mother of Christ"?

Foi tão natural que chega a ser insultuoso. Há dois anos estive em Los Angeles a fazer um curso de realização. Troquei uns emails com um agente americano que tinha visto o "Star Crossed" e que gostou do meu trabalho.

Foi só isso, tão simples?

Há pessoas que passam a vida a ir aos EUA para ter uma oportunidade e não conseguem. Ainda hoje me é difícil conceber este cenário, as pessoas com quem vou contracenar... Não foi uma coisa que estivesse nos meus planos.

Nunca lhe tinha passado pela cabeça uma carreira internacional?

Quando se está no meio imagina-se sempre o mais longe onde se pode chegar, mas não foi algo em que eu investisse.

No casting em Marrocos, o realizador James Foley disse que mal o Diogo entrou na sala percebeu logo que tinha encontrado o actor.

Estava muito nervoso e ansioso. Mas também muito concentrado - e fiz aquilo que achava mais adequado ao personagem. De certa forma, também percebi que ele tinha ficado entusiasmado com o meu casting. As razões só ele as saberá.

Já está a trabalhar no filme?

Recebi o guião logo nessa semana. Por agora estou a trabalhar sobretudo o meu inglês. De resto, ando a ler tudo o que posso sobre o período e a personagem - e a deixar crescer o cabelo.

E depois deste filme, já vai pensar mais a sério na carreira internacional?

Todos os trabalhos abrem portas, mais ainda tratando-se de um filme internacional. Mas não é uma coisa em que pense muito. Estou, isso sim, superentusiasmado por contracenar com Al Pacino. Quanto ao resto, não sei se será um filme a mudar a minha vida..

É verdade que vai ganhar 200 mil euros?

Totalmente falso. O que a minha agente disse foi que ia ganhar em dois meses o que aqui ganho em dois anos. Agora, como chegaram a esse valor não sei. Não escondo que adoraria ganhar 200 mil euros, e não me importaria de confirmar esse valor se fosse verdade. Mas está longe disso, é uma produtora americana que sabe que sou um actor perfeitamente desconhecido naquele mercado americano.

Quanto vai ganhar então?

Não revelo, é indelicado. Uma falta de educação, como alguém dizer uma grande asneira.

Mudando de assunto, começou por ser manequim. Queria trabalhar na moda?

Nunca foi uma coisa que me desse um gozo tremendo ou com que me identificasse. Ainda hoje sou completamente desleixado no que respeita à imagem, não vivo nada para ela. Por isso, não me preenchia muito, à excepção dos castings de publicidade. Aí já nos era pedido para interagir, para actuar de alguma maneira. Ser um figurante numa festa com um copo na mão já era qualquer coisa. E esse lado deixou-me curioso..

Daí às novelas vai um grande passo. Imaginava-se actor?

Nunca. Não tenho ninguém artista na família. As coisas aconteceram sempre de forma muito natural. De alguma maneira, o facto de achar que não era a pessoa indicada para este tipo de trabalho, fez com que me empenhasse e conseguisse mais papéis.

É perfeccionista?

Sou, gosto muito pouco das coisas que faço. Às vezes sou crítico de mais. Além disso, o meu percurso é uma coisa pouco provável: fiz revista à portuguesa, "Malucos do Riso", telenovelas, cinema, teatro infantil. A minha caminhada não é uma linha recta. Foi sempre uma busca de aprendizagem. Mas acho sempre que posso ser melhor.

Fez teatro. Lembra-se da sua primeira apresentação?

Foi na peça de Homem Gonçalves, no Teatro Maria Matos. Fazia um recepcionista de um hotel, com muito poucas falas. Gostei imenso, o elenco tinha várias pessoas conhecidas e com muita experiência. Foi aí o verdadeiro tira-teimas, a primeira vez que me confrontei: "É isto que eu quero?"

E era?

Só mais tarde, cinco anos depois, é que cheguei à conclusão de que não consigo fugir disto. Actualmente não seria feliz se a minha profissão não passasse por contar histórias, a escrever ou produzir. É o mais próximo da magia.

É muito abordado na rua?

Sim, é o efeito secundário de que menos gosto nesta profissão. Sou muito tímido e cioso da minha privacidade.

Tímido?

É algo que desaparece por completo quando estou a trabalhar. Quando sou abordado na rua estão a entrar no meu espaço. Há pessoas que são fantásticas, mas há outras que gostam apenas de mandar umas bocas. A melhor resposta é ignorar.

Não é um actor que alinhe muito no jogo mediático. Não marca presença em festas?

Não sou nada disso. É bom que as pessoas tenham curiosidade sobre nós e os actores devem ir ao encontro dessa curiosidade. É normal e salutar. Mas deve haver limites. Nunca deixaria que fotografassem o meu filho, ou a minha casa, por exemplo.

Como vê a ficção nacional na TV?

Acho que está no bom caminho. Quando comecei, fazia-se uma novela por ano, exclusivamente na RTP. Hoje fazem-se umas seis, no conjunto dos canais todos. É muita produção.

Quantidade e qualidade são coisas diferentes.

Acho que é a fazer que se melhora. Tenho pena que não sejamos mais criativos. De alguma forma descobriu-se que a ficção na televisão pode ser rentável e estacionou-se aí. Escolhem-se umas caras bonitas, misturam--se alguns actores, um texto e uma história simpática e já está. Dá para pagar as contas.

Refere-se aos "Morangos com Açúcar"?

Aquilo não é uma novela, é uma instituição de caras bonitas. Algumas tornam-se projectos de actores.

Acha que se privilegia muito a imagem em vez do talento para representar?

É uma tendência natural. Se eu condenasse, seria o primeiro a pecar. Quando comecei, podia ter algum jeito, mas estava longe de ser um bom actor. Não posso dizer que a minha imagem tenha dificultado a minha entrada. Não condeno essa tendência, o que condeno é que essas pessoas fiquem anos estacionados nessa bananeira. Se não as chamam para uma novela não trabalham.

Arrepende-se de algum papel?

Não. Nem de nenhum papel nem de nada. Mesmo as coisas que aparentemente não foram boas, acabaram por me ensinar algo e nessa medida foram muito positivas. Aprende-se muito com o que não se deve fazer.

E da história do plágio [de uma peça de teatro]?

Foi uma coisa muito positiva, na medida em que significou o cair da minha ingenuidade. Não me quero alongar no assunto - até porque envolve outras pessoas - mas para mim foi uma aprendizagem brutal. Deixei de acreditar que alguém pode mudar o mundo, apenas consegue fazer a diferença

1 comentário:

  1. Muitod Parabéns ... adorei a Entrevista.
    O Diogo é de facto Fantástico.

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