Diogo Morgado, apenas com 10 anos de carreira, já tem direito a uma biografia a ser exibida hoje no BIO, quando está prestes a integrar um filme de Hollywood
Foi captado pelas luzes da ribalta ao protagonizar o telefilme "Amo-te Teresa", da SIC. Desde aí tem deambulado entre teatro, televisão e cinema.
Fala de si como "o puto de família humilde da margem Sul, que para poupar dinheiro fazia quilómetros a pé à chuva". O ano ao qual está prestes a cair o pano foi especial. Além deter sido pai, Diogo Morgado soube que irá encarnar José, na longa-metragem de Hollywood "Mary, Mother of Christ", que deverá chegar ao grande ecrã no Natal de 2010, ao lado de estrelas como Al Pacino. O Biography Channel estreia hoje, pelas 22 horas, um documentário que trata a sua vida.
Ficou surpreendido com esta biografia?
Sim. Pensei que sentido faria ter, tão novo, uma biografia. Foi-me explicado que tinha a ver com um olhar sobre um percurso diferente. Trata-se de um ponto de situação. No critério deles, este é um momento de viragem a propósito da minha participação neste filme.
Há 10 anos pensava que seria possível hoje ter um documentário sobre si?
Ontem não me imaginava aqui. Vivo o dia-a-dia de forma normal. Não penso no que possam pensar sobre mim, nem no que as revistas escrevem. Penso, profissionalmente, no público. De resto, apenas no que vou fazer para o almoço, jantar, se o Santiago está a chorar. É uma vida normal. Não vivo com síndroma de estrela. Se pudesse optar por não ser conhecido, optava.
Preferia então ser anónimo?
Não tenho receio de falar com as pessoas e de alguma maneira partilhar. O que sinto é que as coisas são um bocadinho canibalizadas. Dá-se um pouco e tudo se deturpa. As pessoas conhecem-me, é natural que tenham curiosidade. A forma como isso é doseado é que me perturba.
Tem feito um caminho algo marginal?
Comecei muito comercial. Que de certa forma me desvirtuou para zonas e que agora estou com uma postura mais madura. Com uma noção real do que é este meio. Adoro o que faço, mas sei que há pântanos por aí.
Arrepende-se de algum trabalho?
Não me arrependo de nada. Foi com os erros que evolui, e não me posso arrepender das coisas boas que fiz.
Que papel que lhe deu mais gozo vestir?
O da novela "Vingança". Foi o papel em que já me senti à vontade para fazer algo de diferente. Arrisquei. Elejo este trabalho pois foi aquele em que a experiência acumulada me permitiu não só ser receptor, mas também emissor de ideias.
A escolha do nome do seu filho teve algo que ver com essa personagem?
Sempre achei Santiago bonito. Tive a sorte de a mãe dele também o considerar. Mas foi uma coincidência e achámos que era estúpido deixar de lhe dar esse nome, só porque tinha sido o de uma personagem minha.
É um actor com valor acrescentado, pois tem lupa de realizador. Isso faz a diferença?
Esse lado de realizador tem a ver com o meu lado técnico, científico. Vou usar uma palavra que agora está muito em voga, gosto de esmiuçar as coisas. Acredito no trabalho de terreno. Não é só talento ou a inspiração com que se nasce. Isso é surreal. As pessoas podem ter uma propensão inata, mas tem que se trabalhar. Só assim se adquire uma bagagem para aplicar mais tarde.
Tem na calha projectos de realização?
Sem dúvida. Mas para daqui 30 a 40 anos. Se para um actor para se formar precisa de tempo, um realizador precisa de muito mais. Tirei um curso de três meses nos Estados Unidos para me começar a dotar de ferramentas. E vou continuar.
Foi aí que surgiu a oportunidade de integrar o elenco da longa-metragem?
Na altura estava apostado apenas na realização. Mas surgiu este guião. Há "castings" que só faço para experimentar um texto em particular.
E o que é que o apaixonou no texto?
O lado não religioso, num filme que, a priori, o teria. Sou um homem de fé, mas não praticante da religião católica. A minha fé é acreditar que a energia boa que se imprime é devolvida, tal como a negativa. O que se propaga volta sempre para nós.
É um filme pouco convencional…
É a história da Sagrada Família, mas não de acordo com as premissas católicas. É baseada no amor, que é o denominador comum de todas as religiões. O que me fascinou neste guião foi como o que se pode dar a uma pessoa levar as outras a crer que ela se reveste de divindade. O que se transmite é de tal forma grande, que os outros acreditam que se é Deus, quando se calhar não se é.
Criou expectativas de ficar com o papel?
Não. Nunca. Nem sequer sabia quem era o restante elenco. Pensava que era um filme de baixo orçamento. Só mais tarde vim a saber que se tratava do mesmo realizador de "A paixão de Cristo". E quando me falam de Al Pacino, Peter O'Toole, já estava envolvido no processo. Comecei a ficar ansioso. Mas sempre convicto de que nas audições me viria embora como a maioria.
O que terá pesado para a escolha?
Honestamente, ter feito algo contrário ao que era pedido. Brinquei um pouco em frente ao realizador.
E trabalhar com estes vultos do cinema?
Ainda não me caiu a ficha. Se me dissessem que, e não profissionalmente, o Al Pacino estava a jantar ali ao lado, arrepiava-me. Mas como estaremos no campo profissional, e não me impingi a ninguém, foram eles que me escolheram, não haverá muito espaço para pensar se ele é, ou não, o Al Pacino. É um trabalho como outro. Pode correr mal, ou bem. Não ficarei refém deste filme.
Como se sente quando comparado a Marlon Brando?
Há duas formas de ver isso. Quem estabeleceu a comparação foi a produtora do filme. Pode apenas ser ela a querer vender o produto. Por outro lado, poderá ter a ver com a vontade de encontrar um novo Marlon Brando: alguém que possa desestabilizar o mercado. E poderá haver uma ou outra parecença física.
Como será a passagem de ano?
Tento passá-la sempre da maneira mais recatada possível. Esta não será diferente. A não ser que a minha família me chateie para estar com eles por causa do Santiago.
Tem saudades do futuro?
Não. Sou saudosista, mas sempre que tive saudades do futuro sofri. Ao ter saudades do passado fiquei feliz. Se for saudosista em relação ao futuro não estarei a ser fiel em relação ao que tenho feito até aqui.
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