"Todos dizem ser forte o rio que tudo arrasta. Ninguém diz serem fortes, as margens que o comprimem"

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Entrevista de Diogo Morgado ao Livening.net


Entrevista com Diogo Morgado




Um português que Hollywood apresentou ao mundo

Os holofotes da fama incidiram sobre ele quando protagonizou Jesus Cristo na série norte-americana “A Bíblia”, em 2013. Mas este não foi o primeiro passo de Diogo Morgado numa carreira internacional como ator. Muito pelo contrário. Há já oito anos que empresta o talento a produções internacionais, primeiro no Brasil, com “A Selva”, mais tarde em Espanha, onde rodou três filmes. Tudo enquanto em Portugal se consolidava como nome na sétima arte e na televisão. A verdade, porém, é que Jesus foi o papel que lhe abriu novos horizontes. Um papel a que deu um toque muito pessoal e que lhe valeria um epíteto que haveria de se tornar quase viral em páginas de jornais, programas televisivos e redes sociais. Apesar de ter sido Oprah, a apresentadora norte-americana que dispensa apresentações, que fez eco deste Diogo “Hot Jesus”, tudo começou muito antes. “Eu não entrava nos primeiros episódios e, numa série com 110 milhões de espetadores, a pergunta que se impunha era ‘quem vai fazer de Jesus’”, recorda. Curiosos, os espetadores americanos pesquisaram no Google: “Aparecia um tipo que não tinha túnica nem espinhos – eu. Não podiam dizer se eu representava bem ou não, pelo que apenas comentaram a aparência. Só quando a minha personagem entrou na série, é que começaram a valorizar mais o meu trabalho e as opções que fiz”. Apesar de rejeitar rótulos, não se sente incomodado por lhe chamarem “Hot Jesus”.

“A Bíblia” vai entretanto passar para o grande ecrã, mas, enquanto a estreia não acontece, Diogo Morgado continua em cena na indústria norte-americana, com participações na série televisiva “Revenge”, da Fox. Apesar da exposição pública, não se deixa ir na onda da fama. Diz que, como pessoa, nada mudou. Profissionalmente, claro, muito mudou: alargaram-se as perspetivas, passou a planear o seu trabalho tendo em conta que há mais mercados no horizonte, e passou a gerir a vida entre dois países. Tirando isso, garante que não há grandes diferenças: “Era reconhecido nas ruas de Lisboa e agora, às vezes, sou reconhecido nas de Los Angeles. As pessoas são simpáticas, mas não é uma histeria, como quando veem um Alec Baldwin ou um Tom Hanks…”.

Não eram estes palcos que Diogo imaginava pisar quando era pequeno. Os primeiros passos no mundo artístico deu-os aos 15 anos – teatro infantil, teatro, apresentação de programas, musicais… foi assim que preencheu os seis anos seguintes, até que aos 21 pensou que estava na altura de escolher um caminho a sério. “Andei um mês indeciso. Queria entrar na faculdade, mas percebi que era tarde demais. Que tudo o que podia vir a fazer tinha que ver com escrever, realizar, contar histórias”, recorda. Foi a razão a dar o empurrão que faltava à vocação. “Aconteceu assim e ainda bem que aconteceu”. Aos 32 anos, continua a ir buscar inspiração a dois dos seus atores preferidos de sempre – Armando Cortez e Nicolau Breyner. Ambos o motivam pela forma de estar na profissão mas também pela forma de estar na vida.

Foi Armando que o descobriu: “Foi a primeira pessoa que me agarrou e viu que havia alguma coisa. E quando ele diz, acredita-se. Eu acreditei e acredito até hoje”. E Nicolau inspira-o pela noção de coletivo que tem: “Mesmo quando está mal, é muito difícil encontrá-lo com ele só”. “Se ser ator é ser isto, eu quero ser isto”. Não tem dúvidas. E o que quer ser é “alguém que, acima de tudo, é um espelho do espetro da vida”. Contra rótulos e contra estereótipos, como o de que “um galã não faz comédia”. Diogo fez e tem uma história para contar: “Houve um artigo nos Estados Unidos em que perguntavam por que é que este Jesus sorria tanto. Eu tive oportunidade de responder e pode ter parecido um bocadinho gratuito, mas se a história de Jesus era de alguém que chegava a um sítio e atraía multidões era porquê? Se calhar era só um sorriso. Um forasteiro a sorrir numa terra onde o sentimento de opressão era diário tinha de ser magnetizante. Sorrir foi uma decisão consciente. Aprendi o que é contagiar as pessoas com um sorriso e uma gargalhada e a falta que isso faz”.



Um aeroporto para si é?
Um ponto de passagem. O único sítio onde as culturas, as raças, as línguas, as religiões, os gostos e os desgostos são todos indiferentes, são todos secundários. Todos coabitam nos mesmos metros quadrados de uma forma extremamente pacífica, ninguém olha para o lado, está tudo focado no destino, o que não deixa de ser irónico e interessante ao mesmo tempo.

O que sente quando parte?
A partida evoca muito menos do que a chegada. Evoca expetativa face a algo que nos está a levar do sítio onde estamos e onde vivemos. E isso requer investimento, de tempo, de dinheiro.

E no regresso, o que sente?
É sempre uma felicidade enorme. Não há altura nenhuma que não regresse e não fique brutalmente contente. Quando se regressa, a primeira coisa que se vê é o aeroporto e esse contacto, para mim, sempre foi prazeroso. Por alguma razão, sou teimoso em dizer que dificilmente viveria fora de Portugal, neste caso Lisboa, onde nasci, onde vivo, onde trabalho. Não é por acaso. Se calhar é um bocadinho arrogante dizer que é das cidades mais bonitas do mundo mas, para mim, é.

Das viagens qual lhe deu mais prazer?
Foi uma que fiz na América do Sul, ao Peru, Bolívia, Chile. É uma viagem especial, porque não são destinos óbvios. É uma viagem que se faz porque se quer mesmo, porque se deseja. Aconteceu quando estive quatro meses a gravar na floresta amazónica, antes de regressar a Portugal fiz essa viagem pelas diversas fronteiras do Lago Titicaca.

Onde nunca se cansa de voltar, sem ser lisboa?
Curiosamente, a Los Angeles. Digo curiosamente porque é uma cidade que, à partida, tem muito pouco de apelativo, não está recheada daquele glamour cinematográfico de Nova Iorque. Mas tem uma coisa de que gosto muito: é enorme, toda muito espalhada, gosto de não haver concentrações, de haver zonas, de haver espaço e poder movimentar-me respirando. É uma cidade em que se respira e em que me sinto muito confortável.

EXCENTRICIDADE E BOM SENSO?
Diogo deixa escapar uma gargalhada quando lhe pedimos que aplique a si próprio o tema desta edição da revista – excentricidade e bom senso. “Não sou nada excêntrico”, começa por dizer, para logo sublinhar que tem “alguma dificuldade” em compreender a excentricidade. Na arte ou na moda a excentricidade é “fabulosa”, “criatividade pura”. E essa, sim, aprecia. Já as pessoas que são excêntricas na sua forma de estar lhe merecem outra opinião – são “intromissivas”. Quanto ao bom senso, diz que é qualidade de que há “uma falta tremenda”. Mas acredita que é algo de que tem uma boa dose.

http://www.livening.net/content/entrevista-com-diogo-morgado

1 comentário:

  1. uma entrevista fantastica como sempre!sem duvida um grande actor e ser humano ansiosa por ver o diogo na nossa sic neste novo projecto!continuaçao de muito sucesso !tudo de bom para os tres.bjs

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