"Todos dizem ser forte o rio que tudo arrasta. Ninguém diz serem fortes, as margens que o comprimem"

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Diogo Morgado: "Tenho necessidade de privacidade"

Diogo Morgado: "Tenho necessidade de privacidade"



 A viver e a trabalhar no EUA, Diogo Morgado voltou a Portugal para promover o filme ‘Virados do avesso’. Antes de regressar às gravações de ‘The Messengers’, o ator falou dos seus novos projetos profissionais. 

 Interpretou Jesus Cristo na série ‘A Bíblia’ e no filme ‘O Filho de Deus’. Agora fez o homossexual João Salgado, em ‘Virados do Avesso’. Foram as personagens de maior relevo na sua carreira?
Não sei como responder a essa pergunta. Foram todas desafiantes. Sinto que comecei há bocadinho. Durante muitos anos achei que cada coisa que fazia seria a última. Estava convencido de que as pessoas iam acordar e dizer que não tinha jeito nenhum para isto. 
A apresentadora norte-americana Oprah Winfrey intitulou-o de ‘Hot Jesus’. Considera-se um ‘sex symbol’? 
Não. Os americanos têm muita dificuldade em dizer o meu nome, então é mais fácil chamarem-me outra coisa [risos].
 Como foi interpretar Jesus Cristo? 
Foi mais importante do que alguma vez achei que fosse. Apercebi-me de que o que fiz vai permanecer até muito depois de eu morrer. 
Sabendo que é uma pessoa espiritual, sentiu uma grande responsabilidade no papel? 
Não acredito que as minhas convicções pessoais tenham a ver com aquilo que foi feito. O meu objetivo era que todas as fações religiosas se identificassem com o filme.
 Deparou com alguma dificuldade nessa produção?
 Só deparei com dificuldades. No início foi muito complicado. Tentei humanizar a figura de Cristo e criar alguém que fizesse parte de nós. 
O trabalho foi reconhecido… 
Não estava à espera de tanto sucesso. O trabalho foi eficaz, apesar de abordar um tema polémico, o filme conseguiu ser transversal.
 Qual foi o maior elogio que recebeu? 
Da minha mãe. Depois de ver o filme disse que não me reconheceu. Foi, sem dúvida, a melhor crítica. 
O rótulo ‘Hot Jesus’ começa a tornar-se cansativo? 
Faz-me confusão que um título como ‘Hot Jesus’ se aplique à figura de Jesus Cristo. A minha preocupação é que camufle o que foi feito. A figura de Jesus não tem nada a ver com uma conotação física. É aí que reside a minha indignação. 
Neste momento está a gravar a série norte-ameri-cana The Messengers. Como estão a correr as gravações? 
Muito bem. Vamos terminar as filmagens da primeira temporada antes do Natal. A segunda terá início em julho de 2015. É uma série produzida pela CBS e conta a história de um mundo apocalíptico à beira do colapso. 
A data de estreia está prevista para fevereiro. Que personagem vai interpretar?
 Muito oposta à figura de Jesus Cristo. A minha personagem é The Man, e representa o mal que existe no Mundo. É uma série que aborda o lado maldoso e manipulador do homem. Após o sucesso que alcançou, recebeu vários convites... Quais é que prenderam a sua atenção?
 Aqueles com que não estou num registo familiar e confortável. Gosto de personagens que me deixam aflito e em apuros. É a única forma de evoluir e de crescer enquanto ator. 
Tem algum projeto em mente ainda desconhecido dos portugueses? 
Nunca escondi o sonho da realização. Tenho uma enorme vontade de o fazer. Gostava de contar a história no seu todo e não ser apenas uma parte. Trabalho todos os dias para que a longo prazo possa alcançar isso. 
A fama deixou-o exposto? Sentiu a sua privacidade ameaçada? 
Não. Depois de fazer de Jesus Cristo o público tornou-se mais expressivo e carinhoso. Sinto-me um privilegiado.
 Tenta ser simpático quando abordado na rua?
 Faz parte da minha educação e da forma como fui criado. Sou uma pessoa igual às outras. Quando me abordam na rua só me apetece agarrar as pessoas e dar-lhes beijinhos [risos]. Hollywood é descrita como a terra dos sonhos. Também o foi para si? 
Nos Estados Unidos todas as pessoas têm uma hipótese. Todas têm uma oportunidade de dois ou três minutos para provarem o que valem. De outra forma eu não teria conseguido. Ser famoso nos EUA era um sonho? 
Nunca quis ser ator. De repente fui apanhado nesta profissão e aos 21 anos fui obrigado a escolher. Percebi que representar era a minha paixão. Os EUA vieram depois.
 Que conselho dá aos atores portugueses que ambicionem chegar lá? 
Há que ser honesto no que se faz. Para fazer a diferença, um ator tem de ser autêntico. Como surgiu o convite para o filme ‘Virados do Avesso’? 
Muito repentino. Da mesma forma que o recebi, li o guião e aceitei. Na altura estava a gravar a série ‘The Messengers’, mas aproveitei um intervalo de duas semanas para a rodagem. 
Como se preparou para a personagem? 
Confesso que tive o trabalho facilitado. Tentei perceber como é que o público reagiria se de repente se visse numa situação como esta. É brincar com um estereótipo.
 Faz par romântico com o ator Jorge Corrula. Sentiu algum desconforto? 
Desconforto não, mas houve momentos muito curiosos. Gravámos uma cena em que ambos estávamos nus. Ao fim do segundo take partimo-nos a rir. Trabalhar com o Jorge foi fantástico. É alguém que conheço há muitos anos e com quem me dou muito bem.
 Como descreve o ambiente nas gravações? 
Muito bom. Fazer uma comédia sem nos divertirmos seria impensável.
 Qual é o seu objetivo principal enquanto ator? 
Procuro que cada coisa que faça seja completamente diferente da anterior. 
Quando falamos do Diogo Morgado estamos a falar de quem?
 Sou alguém que tem a sorte de trabalhar naquilo que ama. 
O que é que as pessoas não sabem sobre si? 
Sou uma pessoa muito reservada e há certos pormenores que prefiro guardar para mim. Tenho necessidade de privacidade e defendo-a com unhas e dentes. 
Gosta de futebol? Qual é o seu clube? 
Não sou grande fã [risos]. Só vejo futebol quando joga a Seleção.
 Quem são os seus maiores críticos?
 O pior de todos sou eu. 
Gosta de ouvir críticas? 
Passo bem sem elas. Até das positivas. 
Não gosta de receber elogios?
 Não sei recebê-los. Tenho a tendência para contrariar as pessoas. Tenho de aprender a ouvir e a agradecer.
 A cultura e a arte continuam a ser preteridas no nosso país? 
Sim. A cultura é sempre a última prioridade no que diz respeito às agendas do Governo. Somos sempre a ovelha ronhosa.
 Considera que o público é alheio à cultura? 
Não crescemos com o hábito de ir ao teatro. É natural que isso se reflita nos investimentos. Mas acredito que o público está a ficar diferente. O Mundo globalizou-se...
 Quais são as maiores diferenças de produção entre Portugal e os EUA? 
A população. O número é um fator determinante.
 É casado com Cátia Oliveira. Fruto da vossa união nasceu Santiago, de cinco anos. Como foi a adaptação aos EUA?
 Tem sido progressiva. Vivemos sempre um dia de cada vez.
 O Santiago já fala inglês? 
Neste momento o Santiago é bilingue. Fala inglês melhor do que eu [risos].
 Gostava que ele crescesse em Portugal?
 O Santiago cresce em Portugal. Só está nos Estados Unidos quando estou a trabalhar. Portugal é a minha casa. Sou português.
 Sonha em aumentar a família?
 Sim. Gostava de ter uma menina. Sou muito pai galinha. 
Como é para eles ter um marido e um pai famoso?
 É a realidade do dia a dia. 
Como lidam com o seu mediatismo?
 Bem, como têm de lidar. Mas é mais curioso perguntar como é que se sentem os filhos do Sócrates. É seguramente mais estranho. [risos].
 Do que é que sente mais falta quando está lá fora?
 Sem dúvida da comida portuguesa.
 Convive com muitos portugueses nos EUA?
 Não encontro muitos. A Daniela Ruah é capaz de ser a minha única amiga portuguesa. Portugal é um bom país para acolher pessoas? Somos dos países mais hospitaleiros que conheço.
 E para se viver? 
Também. É complicado, mas, se a pessoa estiver bem financeiramente, é dos melhores. Se quiser criar e desenvolver, há que ter consciência de que é um país que apresenta muitas dificuldades.
 Que mensagem gostaria de deixar? É importante sermos gratos por aquilo que temos. Passamos muito tempo a correr atrás de coisas que não valem nada. Subir a montanha é mais interessante. A viagem é o mais importante.

 http://www.cmjornal.xl.pt/tv_media/detalhe/diogo_morgado_tenho_necessidade_de_privacidade.html

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