"Todos dizem ser forte o rio que tudo arrasta. Ninguém diz serem fortes, as margens que o comprimem"

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Entrevista ao DESTAK

Diogo Morgado: «Não estava à espera de ser tão bem recebido»

De ‘Hot Jesus’ a avião. Diogo Morgado começou há quase 20 anos a representar, mas só atingiu o estrelato internacional em 2013 no papel de Jesus, na mini série americana Bíblia, que lhe valeu a alcunha colocada por Oprah: Hot Jesus. Falámos com ele sobre a sua carreira e da recente viagem às nuvens, no novo papel de um avião no filme Aviões, que estreou a semana passada.

Começou com 14 anos. Nessa altura achava que podia chegar a uma carreira nacional e internacional?
Claro que não. Nunca na vida. Mesmo quando comecei aos 14, 15 anos a representar, durante cinco ou seis anos trabalhei praticamente consecutivamente mas mesmo assim não tinha a certeza se era isto que eu queria para mim. Se calhar estive cinco ou seis anos a experimentar, a tentar perceber se tinha alguma coisa para dar, alguma coisa que pudesse emprestar, e depois cheguei à conclusão que sim, que é isto que eu amo fazer, que mesmo que não tenha por vezes o que é necessário vou trabalhar sempre para tentar chegar lá.

De repente este boom nos Estados Unidos, com a Bíblia. Como tem sido o assimilar de uma fama inclusive nos EUA, esse reconhecimento tão global e tão grande? Alguma naturalidade por já saber o que é ser figura pública em Portugal?
Não é uma surpresa da minha parte porque no fundo é basicamente a mesma coisa. Desde muito novo que sei o que é ser conhecido na rua. A única coisa que muda é o país, a língua, a cultura talvez um bocadinho, mas eu confesso que aceito isso com alguma naturalidade. Neste caso específico dos Estados Unidos senti que me receberam muito bem e não estava à espera de ser tão bem recebido e tão acarinhado pelos media em geral e pelas pessoas. E não estava à espera, primeiro porque era um papel complicado e podia correr muito bem como podia correr muito, muito mal. Houve algumas opções da minha autoria que foram tomadas no filme, que foram arriscadas e que felizmente correu bem. Mas tinha consciência que ao ser apresentado nos EUA, um país altamente religioso, quase tanto como Portugal, senão mais, poderia ter algumas consequências. Felizmente correu bem e eu fico muito feliz que as pessoas me reconheçam na rua, que venham ter comigo e se manifestem positivamente em relação aquilo que eu fiz na Bíblia.

A entrevista à Oprah foi um momento alto nesse reconhecimento, mas para além disso, qual foi o elogio mais surpreendente?
Recebo muitas, muitas manifestações. Estive a gravar com a Madeleine Stowe [atriz de O Último dos Moicanos, 12 Macacos e agora da série Revenge], que é uma atriz que eu admiro muito. Estivemos a contracenar juntos e surpreendentemente ela veio ter comigo e disse-me coisas fantásticas acerca do meu trabalho na série e que me surpreenderam. Não estava à espera e volta e meia pessoas que eu não estou à espera manifestam-se positivamente em relação ao que foi feito na Bíblia.

O que é tornou essa interpretação tão elogiada?
Acho que foi porque eu tentei dar um lado mais humano à personagem, alguém que fosse mais acessível e próximo daquilo que nós idealizamos. Não tenho nada contra todas as perspetivas que foram feitas da Bíblia de um Jesus quase inalcançável, tão acima que olha-te nos olhos e sabe exatamente quem tu és, de onde vens, aquilo que tu sentes. Não tenho nada contra isso, acho que foi feito várias vezes. Neste caso, ao me atribuírem este papel, lutei muito, muito, muito para que fosse alguém que se risse com uma piada, alguém que fosse humano e que não perdesse a sua divindade por ser humano, antes pelo contrário, até se calhar apreciar muito mais a vida. E os comentários que eu vou recebendo vão nesse sentido e eu fico felicíssimo.

O que estive a gravar agora, foi a série Revenge?
Sim, a terceira temporada da Revenge, onde faço do médico Jorge Velez num episódio que vai para o ar nos EUA em setembro.

Sobre a participação no filme animado Aviões. Já fizeste outras dobragens. Gostou da personagem Bulldog?
Sim, eu faço do avião Bulldog e foi muito giro. O Dusty [protagonista do filme] representa aquela coisa quase do sonho americano, de um avião agrícola querer ser um grande corredor e chegar ao topo. E o meu Bulldog é precisamente o oposto: alguém que foi criado, ou fabricado, sempre preparado para as corridas, mas que já está um bocadinho fora de idade. Tem aversão aos mecanismos de orientação como o GPS, tudo o que tenha a ver com satélite, mas por outro lado tem o espírito do verdadeiro corredor, o esforço e dedicação e vai ser isso que vai passar um bocadinho ao Dusty. E a determinada altura vai haver uma cena que é crucial para a personagem do Dusty dar a viragem para se transformar verdadeiramente naquilo que ele quer e nesse aspeto foi giro. E fazer o sotaque foi muito divertido. Ele é um britânico e eu faço o sotaque britânico do início ao fim, que roça o cómico e é engraçado.

E houve muita inspiração no John Cleese, que faz a voz de Bulldog na versão original?
Foi um privilégio fazer a mesma personagem. Desde que me lembro que sou fã dos Monty Python, e o John Cleese era um dos meus preferidos. E acho que, ao pensar no John Cleese, o trabalho está automaticamente feito, imaginei logo uma coisa mais polida, mais ‘cockney’.

Não devem faltar solicitações. Quais são os próximos projetos na calha? 
O Born to Race: Fast Track [filme americano sobre corrida automóveis onde faz de piloto italiano] vai estrear em breve e o Red Butterfly [um thriller americano, onde Morgado é o protagonista] vai estrear ainda este ano. São dois filmes que vão estrear nos Estados Unidos e espero que passem cá também. Vou acabar agora a minha participação na Ambição, a novela da SIC. Aliás, não vou acabar, vou interromper. Depois tenho um filme português para gravar, mas ainda não posso falar muito sobre ele. Vou rodá-lo em setembro e de seguida há um projeto que está na calha para outubro, nos Estados Unidos. Um filme.

O cinema está então de portas abertas bem abertas...
Está. Eu acho que o que mais me motiva nos Estados Unidos é aquilo que eu acho que faz falta em Portugal, uma indústria de cinema, uma panóplia de oferta. Quem representa e quem ama aquilo que faz, a Sétima Arte está sempre num lugar muito especial. E no meu caso é isso. A falha que eu acho que Portugal tem na oferta do cinema que faz, na variedade do cinema que faz, é aquilo que mais me motiva lá fora, nomeadamente nos Estados Unidos.

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A SABER
O melhor verão é...
Na praia

A melhor praia
A Fonte da Telha, onde eu cresci.

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BI Diogo Morgado 
• Diogo Morgado nasceu em Lisboa, há 33 anos 
• Vive e trabalha entre Portugal e os EUA. É casado, tem um irmão e um filho
• Já foi modelo e é ator desde os 14. 
• Saltou para a ribalta com Amo-te Teresa (2000), participou em várias novelas inluindo Laços de Sangue (2010), que ganhou um Emmy e na novela brasileira Revelação (2008). No cinema esteve em filmes como A Selva (2003), de Leonel Vieira e foi Salazar em A Vida Privada de Salazar (2009). Saltou para a ribalta nos EUA com mini série A Bíblia, já em 2013

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