"Todos dizem ser forte o rio que tudo arrasta. Ninguém diz serem fortes, as margens que o comprimem"

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Entrevista à TV Guia...


Ainda vestido como Santiago Medina, Diogo Morgado que comemora dez anos de carreira em 2007, levantou um pouco do véu sobre o seu contracto de exclusividade com a SIC e da emoção que sente em ser o protagonista da novela Vingança. Sem falsos moralismos, falou abertamente de homossexualidade, religião, política, fama e o maior sonho de todos na sua vida: ser pai.



Assinou um contrato de exclusividade, por dois anos com a SIC. Quais são os planos que a estação tem para si?

Vou ter que me cingir ao que a estação planeia para mim. Obviamente o que foi falado com o Francisco (Penim) foi que tudo seria conversável, nunca faria nada onde não sentisse à-vontade. Isso está previsto no contrato. Tenho peças de teatro para fazer e esse tempo vai ter que existir. Caso existam projectos que contemplem a apresentação de programas, ficou decidido que iria haver um intercâmbio de ideias entre mim e a estação. Acho que tudo vai correr bem, mas teremos que aguardar pelo futuro.

Sente-se um dos rostos da SIC?

É engraçado. O Amo-te Teresa foi o filme que me deu mais notoriedade e a SIC resolve agora apostar em mim, acreditando o suficiente no meu trabalho para contar comigo nos próximos dois anos. É maravilhoso. Significa que alguém gosta do meu trabalho e que quer contar comigo. É um certificado.

Na novela, a sua personagem (Santiago Medina) é uma espécie de justiceiro dos tempos modernos. É difícil viver uma figura assim?

É um papel muito bonito, muito especial. Todas as pessoas têm uma opinião sobre Santiago, e talvez seja isso o que me provoca mais ansiedade. No entanto, não é nada de mais. Afinal de contas, já cá ando há dez anos... Sinto-me confiante para tentar fazer o melhor trabalho possível.



O Diogo é capaz de se vingar?

Poucas são as pessoas que poderiam estar no mesmo lugar do Santiago e tivessem consciência de como agir. Procuro pensar que, para alguém que teve tudo, e que é muito feliz e altruísta, o reverso da medalha terá de ser muito violento. Todas as pessoas no seu estado mais primitivo têm alguma forma de reagir.



Como é a Teresa Guilherme como colega e patroa?

A Teresa é uma pessoa muito especial, que tem um dom. Ela tem a responsabilidade de estar a produzir algo para uma estação de televisão, cuidar de uma instituição que envolve muito dinheiro e, por outro lado, enquanto actriz, consegue separar as águas e não se mete no trabalho do realizador. O que ele lhe pede, ela faz. Isso é de uma entrega rara. Na empresa Teresa Guilherme Produções, todos me têm dado muita força e, por isso, estou feliz por fazer a Vingança. A equipa é maravilhosa, está repleta de bons actores e a estrutura técnica é fantástica.



Em que momento é que sentiu, na sua visa, que tinha de ser actor?

Só muito recentemente. Durante algum tempo, vivi numa fase experimental. Então, pensava que o último trabalho em que estava envolvido seria o fim da minha carreira. Questionava-me muitas vezes sobre qual o caminho a seguir...



Parece viver numa grande indecisão. Que sombra é essa que tanto o preocupa?

Por vezes, interrogo-me se vale a pena ser actor neste país, pois esta profissão é muito instável. Nós não temos subsídio de desemprego, e isso é avassalador... Para quem quer construir família, por exemplo, é um risco.



Então, o que o faz arriscar?

É necessário amar muito esta profissão e, acima de tudo, ter muito respeito, para conseguirmos sobreviver aos longo dos anos.



O Diogo Morgado também já apresentou dois programas de TV (Dá-lhe Gás e Lux) que são bastante diferentes entre si. Qual deles lhe agradou mais?

Gostei de apresentar o Dá-lhe Gás. Quando entrei, permitiram-me dar ideias e modificar um pouco o formato do programa. Gosto de apresentar coisas que permitam interactividade. No caso do Lux, era tudo mais formal.



Passou pelas três áreas da representação (Cinema, Teatro e TV). Qual foi a que mais o marcou?

Sinceramente, o que gosto é de trabalhar com aqueles que gostam do que fazem e se empenham. Gosto daqueles que têm uma boa conduta, que se interessam e se dedicam, até porque já abdiquei de muita coisa na vida. Depois, há trabalhos que não resultam, e outros em que não existe dinheiro para os concluir.



Sente que o mercado está mais concorrencial desde que se massificaram os projectos da ficção nacional?

Desde que a TVI começou a apostar nas novelas que todas as pessoas querem ser actores. Com legitimidade. Muitos adolescentes e adultos querem experimentar esta profissão e isso também entope o mercado. Há muito poucas alternativas para quem quer entrar neste meio. Para além do que muitas pessoas tentam ser bem sucedidas, têm uma oportunidade e nunca mais fazem nada. Neste sentido, é um mercado muito violento.



Foi mandatário da juventude na candidatura do PS á autarquia de Odivelas. É uma pessoa que está atenta aos problemas sociais e políticos?

Sim, porque acredito nos seres humanos e sou extremamente social. Acima de tudo, são as pessoas que fazem as leis e não o inverso. Acredito que não há maior bem que o bem-estar das pessoas. É a regra base. Quando me deparo com injustiças, reajo de uma forma mais incisiva do que seria normal. O povo português é muito passivo em algumas coisas. oi por isso que participei na campanha eleitoral e agora colaboro com o pelouro da juventude da câmara de Odivelas.



O que é que faz?

Tenho ajudado Manuel Coelho, que é o director da Malaposta (entidade responsável pelas actividades teatrais em Odivelas), e vamos lá fazer uma peça ainda este ano. Mas isso está dependente da novela...



Protagonizou o primeiro beijo homossexual português em Aqui Não Há Quem Viva. Como se sentiu?

Não me custou nada fazer. Tenho uma grande admiração pelo Luís Gaspar, que é um excelente actor e ser humano. Trabalhar com ele foi muito giro. O trabalho era bem-disposto e abordava a homossexualidade de forma menos folclórica. Existem muitos casais que vivem juntos há anos e que adoptam crianças. Por vezes, eles têm um ambiente mais saudável do que casais heterossexuais e isso nunca foi abordado na TV. Sendo assim, era natural que acontecesse uma coisa tão simples como um beijo entre dois homens. Daí ter sido uma cena lógica e nada chocante ou escandalosa.



Tem medo que a sua imagem fique associada à homossexualidade?

Não é uma coisa que ligue, mas julgo que não.



É um homem religioso?

Sou uma pessoa de fé, não sou religioso. Acredito que há coisas que estão sujeitas a acontecer. Nós geramos uma energia que faz com que as coisas sucedem. Se de uma forma com que as coisas sucedem. Se de uma forma inata a nossa energia for positiva há coisas predestinadas a acontecer nesse sentido. Não acredito que tudo esteja escrito previamente, mas digo-o mais por segurança minha, se não perco o sabor da vida.



Disse que gostaria de ser pai até aos trinta. Qual é a magia dessa idade?

Não é magia, acho que não há nada melhor que ser pai ainda novo. Há dez anos, era mais bem-disposto e muito mais alegre. De uma forma geral, com o passar dos anos, vamos acalmando e ganhando uma nova consciência. Adoro esse lado infantil, fascina-me. Antes que isso acabe, quero transferi-lo para o meu maior sonho, que é ser pai.



Acha que esse lado mágico vai acabar?

Assusta-me se isso acontecer. Quero que a magia seja alimentada com um filho. Vejo que fico diferente quando estou com o meu afilhado ou com o meu irmão, Pedro, que é sete anos mais novo do que eu. Com eles perco a noção do tempo, apetece-me fazer tantas coisas.



Vive sozinho. Como é a experiência de fazer as tarefas domésticas sem ajuda?

Tem sido excelente. Já lá vão uns aninhos. Tenho um pai que faz tudo em casa, desde cozinhar, limpar e ajudava imenso a minha mãe. Esse universo nunca foi uma coisa estranha para mim. Desde cedo que os meus pais me colocaram a fazer as lides domésticas, assim como ao meu irmão. Não é uma coisa que me choque, é natural.



Quais são os seus sonhos?

É mesmo ser pai. Esse é o maior, e o resto é que me deixem fazer coisinhas. Sinto que estive sempre envolvido em grandes projectos e nunca parei. O sonho é trabalhar e que existam pessoas que queiram fazê-lo comigo. Isso é um motivo de orgulho e de motivação. Não quero ser rico, só preciso de dinheiro para pagar as contas. Esses são os meus sonhos, basta-me isso para ser feliz. E ter a minha família por perto, claro.

in TV Guia

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