"Todos dizem ser forte o rio que tudo arrasta. Ninguém diz serem fortes, as margens que o comprimem"

terça-feira, 19 de maio de 2009

DIOGO MORGADO REVELA OBJECTIVOS AO ENSINO MAGAZINE 2001

A caminho de Londres

O actor Diogo Morgado quer ir para Londres para aprender mais e mais sobre a arte de representar. Pelo menos, assim se confessa ao Ensino Magazine, numa entrevista realizada na Estação do Fratel, em Vila Velha de Ródão, entre as filmagens de Estação da Minha Vida, a série onde desempenha o papel de Raul, um antropólogo desempregado que volta de Lisboa à terra natal, onde é bombeiro, taxista e a garantia de ajuda para todas as pessoas da pequena aldeia.

A série ainda não estreou na RTP, mas actualmente é possível encontrar Diogo Morgado na TVI, onde apresenta o programa Lux, em parceria com Rita Seguro. Através da RTP1 chega a casa dos portugueses nas séries A Febre do Ouro Negro, à segunda-feira, e Ajuste de Contas, de segunda a sexta-feira.

Para trás ficam participações em peças do Teatro Maria Matos, Teatro Aberto, Teatro Nacional D. Maria II e o Auditório Carlos Paredes. Passou pelas novelas Terra Mãe e Lenda da Garça e em quatro programas da SIC, Diário de Maria, Jornalistas, Médico de Família e Hora da Verdade. Já em 2000 foi Miguel, em Amo-te Teresa, globo de ouro para o melhor telefilme do ano. Foi ainda Eduardo em A Noiva, um filme de Luis Galvão Teles, transmitido em Junho do ano passado.

É por isso um dos mais conhecidos actores da nova geração e actualmente participa no filme Teorema de Pitágoras, a estrear pela SIC, bem como na peça de teatro Opressão, que sobe ao palco na Casa do Artista, na Pontinha, e cujo elenco foi definido pelo actor, sendo composto por Pedro Granjer, Patrícia Tavares, Paulo Rocha e Paula Neves.

É destas e de outras experiências que fala sem rodeios um jovem de 21 anos, natural de Lisboa, com olhos e cabelos castanhos, mas que prefere a cor azul, aposta no bacalhau com natas, defende o Sporting, não se cansa de ver Forrest Gump e adora Tom Hankes e Michelle Pfeiffer. Na pintura, destaca Almada Negreiros e nos hobbies prefere a leitura, a música, a dança e os namoros.


O Diogo começou a sua carreira aos 14 anos, com uma passagem fugaz no mundo da moda. Como chegou até aí?

Costumo dizer que nunca entrei verdadeiramente no mundo da moda. Pode-se é dizer que o primeiro contacto profissional deu-se com a moda. Com 14 anos concorri ao concurso desenvolvido por uma revista juvenil, com um colega meu. Ganhei o concurso, fiz o curso e entrei para uma agência de modelos. Mas nunca foi uma actividade que exercesse em pleno. Abriu-me foi portas para a televisão e para o teatro...


E foi necessário um grande esforço para conseguir essa passagem à televisão e ao teatro?

Foi um esforço natural, pois não tinha qualquer conhecimento do mercado artístico e deparei com ele de repente, tendo que me adaptar rapidamente, pois essa era a única forma. Quando somos chamados para fazer uma novela, não há outra forma se não a de fazer. Foi este choque de adaptação que motivou o esforço.


Pelo que conhece de trabalhos de produção nacional, incluindo aqueles em que participou, pensa que há boa produção em Portugal?

De há dois a três anos a esta parte, a produção nacional tem vindo a ser um marco, quando seis ou sete anos antes não se fazia, nem ninguém ligava à produção portuguesa, fossem as televisões ou até a própria sociedade. Com o desenvolvimento das estações de televisão, aliado à descoberta que a produção portuguesa tem qualidade, surgiu um boom na produção nacional. É por isso que hoje essa produção é muito boa e consegue competir com a estrangeira.


Pessoalmente, o Diogo prefere o teatro ou a televisão?

Gosto muito de televisão e de teatro, mas onde me sinto mais completo é claramente no teatro, porque é aí que um actor tira a prova dos nove, onde a sua evolução e capacidade artística é explorada ao máximo, em cada fala, a cada movimento, em cada tom de voz. Na televisão, passa um bocadinho pela capacidade de reacção e de espontaneidade do actor, bem como pela capacidade de execução rápida, pois faz muitas cenas num só dia e é preciso ter estofo para isso.


A tarefa de apresentador de televisão é difícil ou, pelo contrário, até se revela demasiado fácil para um actor?

É algo que merece respeito, pois apresentar em televisão não é uma actividade menor nem pior. Tem os seus requisitos mínimos e os requisitos máximos, que só alguns é que conseguem preencher. Eu tento preencher os mínimos e o que vier para além disso é bom.


Mas está a gostar da experiência?

Sim, estou a aprender muito. É uma actividade completamente diferente e importante para me sentir preparado para conseguir fazer o que preciso.


Já lhe aconteceu confundirem o Diogo Morgado com alguma ou algumas das suas personagens?

Já. Na primeira novela que fiz, a Terra Mãe, confundiam-me muito com o Miguel. Hoje confundem-me muito com o Francisco da novela Ajuste de Contas, que está a passar. Mas penso que isso é natural, ainda para mais fora das grandes metrópoles de Lisboa e Porto. As pessoas gostam de se meter connosco. Não sei se nos confundem conscientemente ou se é uma forma de nos abordarem. De qualquer modo é bonito...


As experiências nesse campo têm sido positivas?

Sim. É muito bonito sentir o calor das pessoas nesse sentido. É sinal de que vêem o trabalho que fazemos e mostram que, se não achassem piada, não se metiam connosco.


O Diogo vai participar no telefilme da SIC Teorema de Pitágoras. Qual é a personagem que desempenha?

É uma participação muito curta, mais porque o Gonçalo Galvão Teles, que realiza o filme, é muito meu amigo e fez questão que eu entrasse. Não pude fazer um papel maior porque, em termos de disponibilidade não seria possível. Eu faço de actor canastrão, que faz grandes aquecimentos de voz e que está no meio do teatro. Aliás, a história gira muito em torno de uma peça de teatro que a Patrícia Tavares escreve...


E em Estação da Minha Vida, como é que é o Raul?

É um papel que me está a dar muito gozo fazer. Gosto particularmente do Raul. É uma pessoa da terra, sempre pronta a ajudar, pelo que quando há algum problema na vila recorrem sempre a ele, porque é um antropólogo que estudou fora e voltou dado não conseguir colocação. Trabalha com o táxi do pai e é segundo comandante dos Bombeiros Voluntários do Fratel. No fundo, é pau para toda a obra. Se há algum problema, emocional ou prático, é ele que vai ajudar a resolver. Depois tem uma grande e escondida paixão pela Mafalda, a personagem da Anabela Teixeira, a qual nunca se chega a consumar, o que o deixa triste e nostálgico, mas as pessoas ajudam-no e mostram-lhe que gostam muito dele. Aliás, a simplicidade da série é muito ternurenta e muito bonita e os problemas resolvem-se de uma forma muito harmoniosa.


Já conhecia a região do Fratel?

Conhecia a região de Castelo Branco, mas mais em termos de cidade. Esta zona mais interior não, onde o Rio Tejo apresenta outras formas, onde a paisagem é muito inspiradora, bonita. E como nós somos aspiradores de sentimentos, aspiramos esta nostalgia e este sítio lindíssimo, tentando depois transpô-los o mais possível.


O Diogo já pensou em sair de Portugal e ir representar para outros países da Europa, ou até para os Estados Unidos?

Já pensei e surgiram mesmo hipóteses de o fazer, mas ainda sou muito novo para pensar nisso. Mas dentro de dois três anos, se me conseguir convencer disso, o que já esteve bem mais longe, pego nas minhas coisas e vou-me embora. Tenho quase a certeza absoluta de que isso vai acontecer.


E para onde é que o Diogo está a pensar ir?

Não sei. Talvez comece por Londres e depois logo se verá a adaptação.


O que é que o Diogo gosta mais de escrever: crónicas, textos, outros?

Quem gosta de escrever não escolhe temas, mas escreve sobre aquilo de que se lembra. Às vezes deparamo-nos com um assunto preciso e gostamos de pensar nele, andamos a apensar nele um dia. Eu prefiro transpô-lo para o papel, tento decifra-lo através da escrita. Esta atitude resulta também do facto de eu ler muito. Adoro ler e talvez por isso seja mais fácil entender-me a mim próprio. Portanto, não escrevo para os outros, mas para mim. Depois gosto de ler o que escrevo e de sentir aquilo que estava a sentir. Não há, por isso um assunto específico.


Nasceu em Lisboa, mas tem uma forte ligação ao Alentejo. São dois mundos completamente diferentes. Como é que os consegue coordenar?

Consigo enquadrá-los, porque vivo num local que é intermédio. Trabalho em Lisboa, mas vivo no Fogueteiro, na margem sul, e isso já é uma grande diferença de Lisboa. É como estar a viver um estágio de vida e depois aplicarmos os conhecimentos ao nível daquilo que é real, daquilo que existe. Tudo o que aprendi, de forma simples e bonita, na minha infância, no Alentejo, deu-me uma força muito grande para enfrentar Lisboa e o próprio mundo artístico de forma diferente. Por isso tenho tentado ficar à margem do popularucho, do que é banal e do produto de consumo. Eu sou eu, aquilo que vivi e aquilo que sei fazer. Outras pessoas serão outras coisas. Eu quero o meu cantinho e o meu lugar especial guardado. Não quero que qualquer pessoa possa entrar. E talvez seja essa a grande ligação entre o Alentejo e Lisboa, a capacidade do Alentejo me dar algo que Lisboa jamais me dará. Mas pronto, adiante...


Está muito próximo da sua família, mas os jovens de hoje parecem estar mais próximos do Mc Donald´s e da Coca-Cola...

Isso é algo inevitável. O desenvolvimento da sociedade de hoje em dia faz-se de acordo com as tendências da maioria. Importa consumir cada vez mais, tudo passa por números e por grandes burocracias e ninguém consegue compreender que neste mundo já existiu em tempos a troca directa. Cada vez mais tenderemos para uma banalização das coisas, o sentimento vai dando lugar ao número e é muito triste que isso aconteça. Perdem-se os valores morais, os cavalheirismos, que é algo que pode parecer simples ou mariconça, mas não é. Faz parte do respeito pelo próximo e pela convivência em sociedade que se está a perder.


Ainda consegue sair à rua e passear sem que ninguém fale consigo, olhe de maneira diferente...

Não. Consigo ir a um local sem ninguém me abordar, mas sem ser visto é impossível. O preço da fama paga-se como sempre se pagou e paga-se alto. Talvez por isso tenha vontade de ir lá para fora um dia. Assim poderei ir ao pão à vontade, sem ninguém me abordar. Porque muitas vezes, só a observação, incomoda um bocadinho. As pessoas olham e nós estamos a agir normalmente, mas as pessoas estão a tirar conclusões a nosso respeito.

4 comentários:

  1. Gostei de tudo quanto o Diogo Morgado disse nesta entrevista, gostei porque ele tem um pensar deferente desta nova geracao, e uma pessoa cativante na sua maneira de ser e parece que e de bom coracao e muito seria e,e de pessoas deste feitio que eu gosto, tambem gostei de ler que ele defende o nosso SPORTING, ainda mais gosto dos bons Sportinguistas, forca Diogo em breve vamos ser campeoes, e penso em ir a Alvalade ver algum jogo e te encontrar la para pessoalmente dar-te um abraco.boa saude e muitos exitos na tua vida profissional.Um abraco de Toronto do tamanho do mundo. FC.Toronto Canada.Ont.

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  2. Esta entrevista é de quando? É que me parecer ser muito antiga, pois o Diogo apresentou Lux salvo erro em 2002 (já lá vão 7 anos)
    Luisa

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  3. sim luisa ja tem uns anitos, para ai os 8 anos.

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  4. Tens Razao Luisa, eu tambem tenho a impressao que ja li esta entrevista, nao me lembro aonde, mas parte dela tenho a certeza que li, mas gosto sempre de ler o que o digo diz ou escreve.Fernando Corvelo, Toronto Ont.

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